A Resolução Política aprovada na 16ª Conferência Estadual do PCdoB
de Alagoas, realizada no dia 10 de setembro deste 2011, apresenta às correntes
políticas progressistas e desenvolvimentistas do Estado, à militância do PCdoB
e à sociedade alagoana as linhas iniciais para um Novo Projeto de
Desenvolvimento para Alagoas.
A
importância de um Novo Projeto de Desenvolvimento para Alagoas
Já
se disse que a teoria é a análise concreta da realidade concreta. Mas para isso
é fundamental o domínio dessa mesma realidade além do esforço para a
compreensão da teoria marxista. A experiência, a sensibilidade na atividade
política, têm insuficiente valor se não estiverem associadas a esses
pressupostos e as possíveis vitórias serão efêmeras, passageiras.
Entendendo
a complexidade das realidades econômicas e sociais do Estado, os comunistas
apresentam alternativas ao quadro atual, conscientes de que a solução maior
desses graves problemas que afetam a grande maioria dos alagoanos não surgirá
fora dos marcos de um avançado e Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento para
o Brasil.
Que
construa efetivamente as possibilidades de uma transição para um novo sistema
econômico socialista compatível com as características do País, dos
trabalhadores, da identidade cultural do povo brasileiro, sempre reafirmando
que esse projeto só será possível se as condições de plena soberania
territorial e política da nação estejam asseguradas. Sem a qual será impossível
transitarmos a novos e mais elevados patamares do nosso processo histórico de
civilização.
No
entanto, a realidade alagoana exige a solução dos seus problemas específicos,
inclusive alguns de raízes históricas. Por isso cabe também ao partido em
Alagoas o conhecimento e o domínio dessa realidade regional específica, e
apresentar alternativas concretas para a superação dos seus graves problemas
estruturais.
É exatamente por essa razão que o
PCdoB apresenta estas propostas aos trabalhadores, à juventude, às mulheres e à
sociedade alagoana
Considerando
que na atualidade só será possível transitarmos para uma nova e mais promissora
etapa na vida do Estado de Alagoas se um conjunto de forças distintas vivamente
interessadas na superação desse cenário adverso conseguir construir uma ampla
unidade de propósitos e de ação nos planos econômico, social e político.
Os
desafios que Alagoas tem pela frente são tremendos. Eles não podem, no atual
contexto histórico e político do Brasil e do Estado, ser enfrentados e vencidos
através de uma única corrente política. Torna-se imperioso a conjugação de
esforços em torno de um projeto realizável e que aglutine os mais diversos
segmentos da sociedade alagoana.
Os
comunistas também estão convencidos de que só será possível combater as
péssimas condições sociais em que vive a grande maioria da população alagoana
se conseguirmos criar a união necessária em torno de um amplo campo político
sinceramente desejoso de construir uma nova etapa econômica e social para
Alagoas.
O
que implica no combate lúcido às correntes conservadoras do Estado que exercem
o atual poder político com a eleição do governador Teotônio Vilela Filho -
PSDB, DEM, PSB, PPS etc, que se beneficiam da continuidade dessa realidade
extremante adversa às maiorias alagoanas. Assim, as precondições para a
constituição dessa ampla frente baseiam-se na vontade concreta de participação
nesse projeto avançado para Alagoas.
Por
fim o PCdoB está consciente de que para a consecução dessa linha política em
Alagoas é fundamental travar a luta de ideias em torno dos caminhos do
desenvolvimento econômico, das melhores estratégias visando à inclusão social,
além do conhecimento científico da realidade regional. Tudo isso implica na
necessidade da construção de um novo e avançado Projeto de Desenvolvimento para
Alagoas, nos planos econômico, social e político.
O
diagnóstico da realidade econômica e social de Alagoas
O Estado de Alagoas apresenta os indicadores sociais mais baixos
do Brasil. Em 2007 o produto interno bruto de Alagoas, o PIB, era de 14 bilhões
de reais, penúltimo lugar entre os Estados nordestinos, com uma renda per
capita 20% menor que a nordestina e de apenas 40% da renda per capita nacional.
Estudos sobre a realidade alagoana destacam os altos percentuais de 62% da
população na linha de pobreza, mais de 50% tendo de receber assistência do
programa Bolsa Família.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome, Alagoas tem 633.650 pessoas em situação de extrema pobreza, o que
representa 20,3% da população total do Estado. O Conselho Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional realizou um levantamento sobre a situação de
insegurança alimentar em 2009. É o mais recente estudo no país sobre o assunto.
Em Alagoas, 15% dos domicílios estão em situação de insegurança alimentar leve,
24% em situação de insegurança alimentar moderada e 9,3% em situação de
insegurança alimentar grave.
Grande é a concentração de renda no estado, em que dos 1.133.203
alagoanos que compõem a população economicamente ativa, uma parcela irrisória,
5%, ganham mais de 5 salários mínimos e um uma grande parte, 48%, recebem até 1
salário mínimo ou mesmo não têm renda permanente (22%). Os péssimos índices
educacionais de Alagoas revelam que, conforme dados de 2005, 24% da população
economicamente ativa é de analfabetos e 45% têm só o ensino fundamental
completo ou incompleto.
Alagoas possui um pequeno parque industrial, uma agricultura onde
são reduzidos os setores em que existe efetivo dinamismo, comércio e serviços
na sua grande maioria baseados na economia informal.
A estrutura fundiária de Alagoas é marcada por um grande número de
pequenos estabelecimentos, 108 mil (82% do total de estabelecimentos), com
menos de 10 hectares, correspondentes a apenas 11% da área agrícola do estado,
e 5% dos estabelecimentos, 8 mil, maiores de 100 hectares mas com 62% da área
agrícola.
A agroindústria do açúcar e do álcool, principal atividade
econômica do Estado desde o período colonial, com os engenhos banguês, viveu
ciclos alternados de prosperidade e crise. No final dos anos 80 e década de 90,
vários fatores, como a desaceleração do Proálcool, a crise cambial e fiscal,
afetaram o setor e ocasionaram o fechamento de diversas usinas e a falência de
produtores de cana, com o aumento da concentração nos grandes grupos
sucroalcooleiros que, além de já estarem com suas atividades econômicas
diversificadas em outros setores como a construção civil, serviços de táxi
aéreo, produção de fertilizantes, etc., também possuíam capital acumulado o
suficiente para absorverem os grupos falidos aumentando ainda mais a
concentração fundiária.
Os grandes grupos promoveram a reorganização de seu espaço
produtivo, investindo na modernização do setor. Essa modernização e o
fechamento de várias usinas expulsaram milhares de trabalhadores dos núcleos de
povoamento rural, provocando o êxodo rural e o aumento da favelização nas
cidades.
A ausência na área rural de um universo de pequenas unidades
produtivas com acesso ao crédito, assistência técnica e incentivo à
comercialização, tem como consequência uma produção insuficiente de alimentos
para o abastecimento do mercado interno e de insumos para uma diversificada
agroindústria.
A consequência tem sido a pobreza e a ausência de uma dinâmica
econômica no Estado. O resultado é que a população urbana de Alagoas saltou,
através da migração interna fundamentalmente, de 600.000 pessoas para 2 milhões
de moradores, agravando sobremaneira os enormes problemas decorrentes da
urbanização em grande escala como nas regiões dos Países em vias de
desenvolvimento, que tem sido o caso do Brasil.
E
no caso de Maceió o resultado dramático é demonstrado pelo surgimento em poucas
décadas de quase 300 favelas ou outros tipos de aglomerados urbanos na
periferia da cidade, com uma população que sobrevive às expensas de atividades
irregulares e temporárias.
As razões dos dramáticos números econômico-sociais do estado de
Alagoas se encontram em três fatores fundamentais:
a)
Ausência
de um amplo mercado interno, decorrente de uma economia que atenda à demanda
regional, que aumente e distribua a renda, procurando incorporar a maioria da população
no processo de produção;
b)
Insuficiência
de polos produtivos dinâmicos capazes de substituir em maior número possível as
importações e realizar as exportações para o exterior e outros estados,
promovendo o crescimento regional;
c)
Falta
de capacidade de investimento do setor público do Estado e dos municípios.
Segundo trabalho do economista Cícero Péricles, no fundamental, a
combinação desses três elementos provoca as dificuldades de atração de
investimentos produtivos. Por isso, e outras razões, as taxas de crescimento de
Alagoas foram inferiores às da maioria dos demais Estados nordestinos.
Assim é que se constata em Alagoas a perniciosa combinação de
pobreza com péssimos indicadores sociais. Não é à toa, portanto, que se observa
em várias análises que o Estado alagoano além de ter uma renda mal distribuída,
há a exclusão, do mercado consumidor, da maioria da população.
O problema atual do
desenvolvimento em Alagoas
A falta de capacidade de investimentos, em especial do Estado
alagoano, que passa por dificuldades graves, praticamente o impossibilitam de
promover uma estratégia própria de desenvolvimento. Seriam duas as origem
dessas dificuldades: a crise fiscal brasileira nos anos 80, com a diminuição da
transferência de recursos da União para os Estados e a crise provocada pelo
setor sucroalcooleiro que, por diversos fatores, com a crescente dificuldade de
apoio e financiamento, foi buscar na estrutura do governo estadual a
complementação de recursos que vinham do governo federal, o que acarretou na
própria crise do aparelho estatal. A inadimplência do setor com a companhia
energética e com o banco do Estado foi coroada com um acordo fiscal assinado em
1989 que transferiu do Estado para o setor sucroalcooleiro alagoano 1,5 bilhão
de reais.
Assim, nos anos 90, o Estado alagoano esgotou sua capacidade de
investimentos e viu-se numa condição falimentar, numa situação de crise que o
levou a assinar um acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional, o Programa de
Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscal, que exigiu medidas austeras como
cortes nos gastos com funcionalismo, reformas administrativas, venda de
patrimônio etc.
A dívida do Estado continuou a crescer, mais de 300%, sendo o
pagamento de serviços dessa dívida maior que todo o gasto com custeio e
investimentos. A dívida do Estado em julho/2011 já atingiu 7,7 bilhões de
reais. E, em função do acordo, o Estado vem desembolsando, desde a sua
celebração e durante 30 anos, 15% de sua receita líquida.
A dimensão do papel do governo
federal em Alagoas
Em função desse quadro, a presença do governo federal em Alagoas,
na vida da sociedade e da economia alagoanas, é muito forte e tende a crescer,
pela impossibilidade do Estado, no curto prazo, criar empresas e polos de
desenvolvimento com o objetivo de investir significativamente no mercado
interno e ir resolvendo as insuficiências financeiras de Alagoas.
Por isso os programas do governo federal possuem uma importância
pode-se afirmar até estratégica, na condição atual do Estado de Alagoas. O
Estado arrecada 1,2 bilhão de ICMS ao ano, insuficiente para pagar sua folha de
pagamento. Por outro lado, injetam na economia alagoana, a Previdência Social 2
bilhões, o Bolsa Família e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil 27,3
milhões, beneficiando cerca de dois milhões de pessoas.
Em 2007, os recursos oriundos do governo federal, através desses
programas, mais os gastos em políticas sociais permanentes, como educação,
saúde e as transferências regulares para o Estado e os municípios,
ultrapassaram 4 bilhões de reais, mais os 2 bilhões da Previdência Social,
representando no total mais de 40% do produto interno bruto do Estado de
Alagoas.
Em resumo, mais de metade da população alagoana depende dos
recursos federais para sobreviver. Sem o governo federal, Alagoas estaria
praticamente inviabilizada, sem falar no caos geral e a dimensão do que seriam
as tensões sociais, a violência e a criminalidade que hoje já estão acima da
média nacional.
Esta “federalização” da economia alagoana é que tem permitido um
crescimento relativo de Alagoas apesar de muito inferior aos demais estados
nordestinos. Inclusive propiciando o incremento do mercado interno e o aumento
do consumo das camadas populares em todas as áreas como energia, saúde,
educação, comércio e serviços. É o aumento da renda sem o equivalente na
produção.
Possibilitando
o surgimento dos pequenos e médios comerciantes e também, em grande medida,
pelo aumento do número de micro, pequenas e médias empresas. Em outras
palavras, responsável pela própria dinâmica da atual economia alagoana.
O
que caracteriza uma inserção econômica sujeita a chuvas e tempestades porque
está sempre a depender das variáveis político-econômicas do Estado Nacional.
Das circunstâncias sazonais de quem efetivamente se encontra no comando do
governo federal em decorrência das alternâncias eleitorais da presidência da
República.
E
das orientações que sejam conduzidas por essa ou aquela corrente política e
econômica que esteja na liderança do País. Por exemplo, caso um governo com
linhas ortodoxas neoliberais seja eleito, com a sua doutrina fiscal e de
políticas públicas de caráter neoliberal, isso implicaria em prejuízos à
economia alagoana de consequências sociais imprevisíveis.
Portanto,
a tendência de crescimento e modernização da economia alagoana vai estar
submetida à situação de imponderabilidade. Exatamente pela sua característica
de ser um processo de crescimento fortemente subordinado e dependente às
eventuais políticas do governo federal.
Esse quadro acarretou um tipo de cultura política hegemônica no
Estado. Onde mais vale a capacidade de negociar todo o tipo de ajuda oriunda
dos ministérios em Brasília, para os municípios e o Estado, dada a extrema
dependência das políticas públicas do Estado Nacional. Isso tem provocado o
rebaixamento das discussões sobre as orientações econômicas para as soluções de
Alagoas. Dessa forma, o pragmatismo político atingiu em Alagoas dimensões mais
elevadas e intensificou as tendências ao clientelismo mais elementar, ao
contrário de auxiliar na modernização das práticas e das relações políticas.
As
linhas para um Novo Projeto de Desenvolvimento para Alagoas
Nesse
quadro, as alternativas para Alagoas implicam na associação direta com os rumos
do Governo Federal. Na permanência da atual orientação do governo da presidente
Dilma com avanços para uma nova estratégia nacional de desenvolvimento do País,
mais avançada nos planos econômico e das políticas de desenvolvimento e
inclusão dos amplos segmentos dos trabalhadores na vida da nação.
Em
manter e aumentar o ritmo de desenvolvimento do Brasil, reduzindo as taxas de
juros, fortalecendo o mercado interno, e investindo pesadamente na
infraestrutura das regiões e de Alagoas.
Constituir
um Novo Projeto Regional de Desenvolvimento para Alagoas, considerando suas
vocações econômicas tradicionais, mas apostando em novas possibilidades de
caráter estrutural que efetivamente diversifiquem as alternativas para a
industrialização na região, com as seguintes linhas fundamentais:
a) Apresentar
novas possibilidades de integração econômica de Alagoas com a economia nacional
e principalmente encontrar identidades e parcerias com os emergentes polos
nordestinos.
b) Apresentar
ao governo federal alternativas negociadas à dívida estadual que sufoca
Alagoas, cujas proposições deverão ser de cunho econômico, técnico, mas
principalmente de caráter político.
c)
Desenvolver
estratégias emergenciais, com base em um planejamento factível e realizável,
com vistas à superação das gravíssimas e agudas crises nas áreas de saúde,
educação e segurança.
d) Elaboração
de um projeto, com etapas definidas, para as dezenas de milhares de pequenos e
médios agricultores alagoanos, com custeio, investimento e assistência
explicitados, formatação de escoamento da produção, além de construção das
condições para a viabilização do mercado interno.
e) Definição
de uma linha de projetos, em parceria com o governo federal, visando à
erradicação das favelas em todos os municípios alagoanos e especialmente das
300 favelas de Maceió.
f)
Propor
estratégias de fortalecimento do turismo em Alagoas tendo como base a
construção da infraestrutura necessária, em especial, mão de obra, saneamento,
estradas, recuperação e defesa do meio ambiente que está degradado.
Esses
objetivos não são possíveis de serem alcançados sem a constituição de uma ampla
frente política que envolva uma aliança entre diferentes forças políticas do
Estado que tenham em comum o interesse de construir uma alternativa para
Alagoas que esteja baseada nesses e outros objetivos fundamentais a médio e
longo prazos.
Que
possuam em comum a visão do papel do Estado nacional na economia alagoana e,
evidente, o entendimento de que é fundamental a continuidade e aperfeiçoamento
do atual projeto de desenvolvimento brasileiro iniciado nos dois governos Lula
e agora com a presidente Dilma. O que implica no esforço de aglutinação das
forças políticas e econômicas com identidade quanto às linhas de
desenvolvimento e de decidida participação do Estado regional, persistentes
políticas de inclusão social, combinadas com estratégias econômicas de
planejamento suficientemente definidas tendo como meta fundamental o
soerguimento de Alagoas.
E
que também incorpore o PCdoB como força viva e atuante junto a esse objetivo de
caráter fundamental para Alagoas na presente etapa da vida do Estado,
compartilhando nas esferas política, administrativa, no plano das ideias
realizáveis, na aglutinação de vastos setores sociais, da intelectualidade
alagoana, nas relações consequentes com o governo federal, contribuindo em
parcerias com o necessário somatório de agentes políticos para a consecução
desse projeto.
Partido
Comunista do Brasil – PCdoB/AL
Fontes:
(1)
Políticas Públicas e Distribuição de Renda: o caso de Alagoas,
Cícero Péricles de Carvalho, professor de Economia da UFAL.
(2)
O novo pedido de empréstimo ao Bird e a dívida pública de Alagoas,
reportagem da jornalista Sumaia Villela, publicada no O Jornal em sua edição de
28/08/2011.
(3)
Um diagnóstico socioeconômico do Estado de Alagoas a partir de uma
leitura dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE
(1992-2004), André Urani, Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, 2005.
(4)
Breve análise sobre a influência da cana-de-açúcar na formação da
sociedade alagoana e os impactos sentidos hoje por conta da reorganização do
espaço produtivo, Givanildo Ferreira, sociólogo.
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