quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Ciência, Cotidiano e Futuro

Há um clamor crescente na sociedade para que as aulas de Matemática tenham maior relação com o cotidiano. Dizem que se trata de uma tentativa de melhorar a aprendizagem, pois o interesse do estudante seria maior. Essa reivindicação ganhou ares oficiais a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998, mas enfrenta dificuldades na sua implantação.
No curso da história do ensino brasileiro de Matemática várias reformas e movimentos ou propuseram ou alteraram o programa curricular, as abordagens metodológicas, reuniram os diferentes ramos (aritmética, álgebra, geometria e trigonometria) em uma só disciplina, alongaram os anos de estudo, e uma melhoria significativa na aprendizagem não ocorreu. Apesar de sempre se justificarem como “tentativa de melhorar o ensino”, existe quem acredite que ele só piorou após tantas mudanças. Portanto, essa “boa intenção” já pode ser questionada.
Ainda existem outras interrogações: será possível estabelecer o vínculo com o cotidiano em todos os assuntos e em todas as séries? O conteúdo que não puder ser vinculado ao cotidiano deve ser abandonado? Como deve ser estabelecida esta relação, partindo do assunto para o cotidiano ou ao contrário? O que se quer dizer com “cotidiano”? Pois, há concepções diferentes para cotidiano, dia-a-dia e realidade. A falta de interesse do aluno provém exclusivamente desta ausência de vínculo entre o conhecimento escolar e o extra-escolar?
Certamente não temos espaço suficiente aqui para desenvolver todas nuances que envolvem o tema – até porque foi nosso objeto de estudo em pesquisa de mestrado na UFAL, mas desejamos lançar algumas reflexões. Primeiramente, uma das funções da escola é justamente inserir no contexto da vida infantil assuntos que não se teria acesso “espontaneamente” no dia-a-dia. É tarefa da escola o trabalho com conteúdos não-cotidianos, que não são do senso comum, ou seja, assuntos que são científicos. Depois, as conseqüências de se estudar prioritariamente o que é cotidiano podem ser nefastas. A escola não envolvendo a criança no mundo científico pode privar o país de produzir cientistas. Um país sem ciência não tem avanço tecnológico, é um país fadado à dependência estrangeira. Fadados à dependência, resolveremos nossos problemas?Assim, para aqueles que precisam de motivos para “ter interesse” em estudar e aos governantes que desejam “melhorar a qualidade da educação” fica o recado de Marx: “a ignorância nunca fez bem a ninguém”.

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