segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Gram...xi, tudo culpa sua!

O tempo passa, pessoas vêm e pessoas se vão, e suas lembranças e seus ideais permanecem consoantes a sua importância no desenvolvimento das sociedades. Ainda assim, há pessoas que, de repente, nos damos conta, e percebemos que seria melhor se nós não as tivéssemos conhecido, não saberíamos de sua existência, apesar das suas qualidades. Seríamos ignorantes em relação aos seus grandes feitos. (E, existem outras, obviamente, as quais nós lamentaremos eternamente suas ausências.) Antônio Gramsci dizia que uma das funções da educação é tornar o homem atual a sua época, talvez quisesse dizer com isso que, mais do que atual a sua época, fosse o caso de a humanidade se projetar. Na educação, se poriam as expectativas do que ela seria no amanhã, que tipo ideal de homem se desejaria obter para o futuro.Recentemente foi divulgada uma pesquisa na qual o Estado de Alagoas era o último colocado na aprendizagem de matemática e português no País. Juntando-se a esta, uma outra pesquisa da UNESCO na qual o Brasil figurava entre os últimos na aprendizagem de matemática e língua materna e podemos, matematicamente (será que conseguimos?), chegar à conclusão de que estamos em último dos últimos.Contudo, retornemos à afirmação de Gramsci. Poderíamos concluir que não estamos conseguindo tornar nossos jovens atuais a nossa época? Os mais otimistas quiçá dissessem: – Mas, que época é essa? É tempo de guerras, assaltos relâmpagos, ataques do crime organizado, desmatamentos, efeito estufa, fome, miséria, epidemias. Assim, é bom mesmo que não sejamos atuais à nossa época. Por outro lado, os pessimistas deveriam pensar que se Gramsci queria mesmo indicar que através da educação a sociedade se projeta, pela educação a sociedade se perspectiva: então, em Alagoas, teremos um futuro sombrio.Antes que alguém se jogue pela janela é bom lembrar: nosso destino não está escrito. Gramsci acreditava também que o homem constrói sua própria história. Nossa história futura não está pronta desde já, ela está se construindo no hoje, que se construiu sobre o ontem. Quanta ironia!? Moramos, nascemos, falamos da terra de ninguém mais, ninguém menos que Aurélio Buarque de Holanda, Graciliano Ramos, Pontes de Miranda, Lêdo Ivo, Edmilson Pontes... Talvez eu devesse ter conhecido esses “caras” e não o tal do Gramsci.
(Publicado na Gazeta de alagoas em 29/07/2006)

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Fácil, como tirar doce de criança

Quando somos crianças e estamos descobrindo palavras novas, por vezes, usamo-las em momentos descabidos. Isso acontece principalmente se elas nos soam bem aos ouvidos. (O Luís Fernando Veríssimo gosta muito de “defenestrar”, porque além da sonoridade é um privilégio próprio da janela, somente na hora em que se põe algo para fora, pela janela, é que se pratica o ato de “defenestrar”.) Mas, os usos inoportunos também são realizados por adultos. Nas transmissões de futebol não só jogadores como também narradores e comentaristas incorrem em deslizes. A partida que estava 1x0 para o Internacional contra o Barcelona não poderia jamais ter seu placar “revertido”, visto que nunca depois disso seria 1x0 em favor do Barça (ainda bem! Viva o alagoano Adriano!)
Vira-e-mexe e surge um gaiato dizendo que sua vida deu “um giro de 360º e mudou completamente”. Se, rodou 360º, então o sujeito parou exatamente onde estava antes. Houve também um prefeito que em sua campanha de reeleição disse: “Quando assumimos o governo estávamos à beira do abismo. Hoje, passados quatro anos, podemos afirmar: - Demos um passo à frente!” Pobre cidade!
Não faz muito que cheguei a esta receptiva e bela Maceió, foi em 2002. Naquele ano houve eleição para governador. Já tendo mudado meu título eleitoral, ouvi diversas vezes, nos programas políticos que havia sido feita uma “revolução” no setor público do estado, a educação melhorava, as finanças estavam saneadas, o canal do sertão era uma realidade, um funcionário público jamais cometeria suicídio por estar com salários atrasados e aquela cantoria toda.
Muitos de nós, saíram por aí repetindo estas belas orações, elas embalavam nossos sonhos! Os três grandes tenores que puxavam o coro, hoje estão fora de sintonia. “Aquele que já foi” continua a bela cantilena, o “outro que agora está” canta ao contrário do que já disse antes, e “o maestro” está envolvido na eleição da presidência do senado e nem ouve os sapos de cá. Por que toda esta mudança? Por que não estamos mais com Alice no País das Maravilhas?
De qualquer forma, fomos enganados! Ou somos crianças e ainda não aprendemos bem o significado daqueles verbetes (contas em dia, educação maravilhosa, canal do sertão, soldos em dia,...) ou somos tão tolos quanto alguns comentaristas, narradores, jogadores de bola (menos o Adriano, este é um gênio!) e outros que falam sem saber o quê.Se a população daquela cidade tivesse defenestrado seu prefeito, talvez não tivesse caminhado para o abismo!
(publicado na Gazeta de Alagoas em 15/02/07)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Ciência, Cotidiano e Futuro

Há um clamor crescente na sociedade para que as aulas de Matemática tenham maior relação com o cotidiano. Dizem que se trata de uma tentativa de melhorar a aprendizagem, pois o interesse do estudante seria maior. Essa reivindicação ganhou ares oficiais a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998, mas enfrenta dificuldades na sua implantação.
No curso da história do ensino brasileiro de Matemática várias reformas e movimentos ou propuseram ou alteraram o programa curricular, as abordagens metodológicas, reuniram os diferentes ramos (aritmética, álgebra, geometria e trigonometria) em uma só disciplina, alongaram os anos de estudo, e uma melhoria significativa na aprendizagem não ocorreu. Apesar de sempre se justificarem como “tentativa de melhorar o ensino”, existe quem acredite que ele só piorou após tantas mudanças. Portanto, essa “boa intenção” já pode ser questionada.
Ainda existem outras interrogações: será possível estabelecer o vínculo com o cotidiano em todos os assuntos e em todas as séries? O conteúdo que não puder ser vinculado ao cotidiano deve ser abandonado? Como deve ser estabelecida esta relação, partindo do assunto para o cotidiano ou ao contrário? O que se quer dizer com “cotidiano”? Pois, há concepções diferentes para cotidiano, dia-a-dia e realidade. A falta de interesse do aluno provém exclusivamente desta ausência de vínculo entre o conhecimento escolar e o extra-escolar?
Certamente não temos espaço suficiente aqui para desenvolver todas nuances que envolvem o tema – até porque foi nosso objeto de estudo em pesquisa de mestrado na UFAL, mas desejamos lançar algumas reflexões. Primeiramente, uma das funções da escola é justamente inserir no contexto da vida infantil assuntos que não se teria acesso “espontaneamente” no dia-a-dia. É tarefa da escola o trabalho com conteúdos não-cotidianos, que não são do senso comum, ou seja, assuntos que são científicos. Depois, as conseqüências de se estudar prioritariamente o que é cotidiano podem ser nefastas. A escola não envolvendo a criança no mundo científico pode privar o país de produzir cientistas. Um país sem ciência não tem avanço tecnológico, é um país fadado à dependência estrangeira. Fadados à dependência, resolveremos nossos problemas?Assim, para aqueles que precisam de motivos para “ter interesse” em estudar e aos governantes que desejam “melhorar a qualidade da educação” fica o recado de Marx: “a ignorância nunca fez bem a ninguém”.